domingo, 9 de agosto de 2015


SÃO MIGUEL DO GUAMÁ - PA        

“Saber ouvir quase que é responder.”
Marivaux, Pierre

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São Miguel,  não é uma cidade muito grande. Antes de lá chegar, passamos em Castanhal, onde eu e o motorista da empresa almoçamos. Por sinal, ele era bem chato, não... enjoado, sei lá! Acho que não gostei das conversas dele. Mas, o escutava com todo o respeito e paciência que Deus me deu. 

Ás vezes, precisamos fazer um esforço grande para escutar, calar nossas vozes internas, dar a atenção, nossos ouvidos, àquele que precisa falar.  É necessário querer escutar o dito, o não dito, prestar atenção às expressões faciais, aos gestos, ao tom de voz, às pausas. É preciso ver e sentir a pessoa que se escuta.  Isto não é tão simples. Escutar a quem amamos, admiramos, quando precisamos da informação, é mais fácil, prazeroso. 

Escutar é uma atitude ativa. É um tempo meu que dou para o outro, é um presente. Muitas vezes, só precisamos que o outro nos escute; sabemos que a pessoa não irá resolver nossos problemas, mas o simples fato de escutar, de dar sua atenção, nos dá força para seguirmos em frente. Renova nossas energias, sentimos que não estamos sozinhos. Escutar é coisa de amigo, companheiro, amor. Escutar é uma atitude solidária, é um carinho.

No mundo atual falta “escutadores”. Até acho que é por isso que as pessoas usam as mídias sociais para contar quase tudo do dia a dia. Alguém vai curtir, comentar. Alguém vai me “escutar”. Aguardamos ansiosos os números de curtidas e ficamos chateados quando uma ou outra pessoa que consideramos não se manifesta, permanece no silêncio absoluto. Será que já não sou mais tão importante para essa pessoa? Não faço falta? Será que está chateada, zangada, por alguma razão? Esta será a nova forma de se sentir “escutado”, querido, importante, amado?  Que coisa! Que droga!

Hoje, chega de falar sobre este assunto. Assunto complexo, precisa de mais tempo.

Voltando à São Miguel.
Pouco conheci desta cidade. Cheguei e fui direto para o local do treinamento.
A turma era pequena e, após poucos minutos, deu para perceber que não tinham o perfil para aquele treinamento, que era específico para lideranças da comunidade ou pequenos empreendedores. Ás vezes acontecia. E nesse caso o trabalho fica mais difícil. Os participantes não questionam, não contribuem com exemplos e as dinâmicas ficam empobrecidas. Não há como aprofundar o processamento, pois falta experiência de liderança de equipes e até de vida.

Tinha dois jovens como “convidados” (o que normalmente não é permitido). Isso significa que não estavam inscritos formalmente no curso. A pessoa responsável pelo grupo, os convidou. Um deles, conversou muito comigo, durante os intervalos. Contou um pouco de sua vida: filho adotivo, entrou no mundo das drogas, álcool. Deu o retrato de sua mãe para mim, para que eu lembrasse dele. Meu Deus, como eram carentes de atenção, afeto, de alguém que pudesse ajudar, escutar, orientar. O outro, também estava largando a bebida. Eram tão jovens! Fiquei comovida. Achei muito triste tudo que me contaram.
Mais tarde, a pessoa que os convidou, me disse que tinha esperança de o curso ajudá-los de alguma forma. Será? Tomara!

É assim: conhecemos pessoas, que às vezes nos contam seus sonhos, alguns segredos, dores profundas, e nunca mais sabemos delas. Talvez por isto mesmo é que contam. E só nos resta o desejo de que tenham uma vida boa, superem os obstáculos, curem suas dores, aprendam com elas, realizem seus sonhos, sejam felizes.

Sempre faço questão de tirar uma foto com todos os participantes ao término dos treinamentos. É uma forma de registrar o rosto de cada uma delas, para não esquecer, para registrar a lembrança de momentos tão agradáveis e enriquecedores.

Voltei com o motorista chato/enjoado para Belém, com uma sensação estranha, reflexiva. Um sentimento que não sabia bem definir. Aqueles dois jovens, aquelas pessoas tão simples, que foram tão carinhosas comigo, seguiram a viagem comigo. Que sejam felizes. Mais uma vez sou grata por tudo que aprendi com cada um deles.



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