terça-feira, 25 de agosto de 2015


RIBEIRÃO PRETO/SP – 2002

Renda-se, como eu me rendi,
Mergulhe no que você não conhece,
Como eu mergulhei,
Não se preocupe em entender,
Viver ultrapassa todo entendimento.
Lispector, Clarice
 
http://www.aasp.org.br/simposio/images/20150217-conheca-ribeirao-preto.jpg


  
Ribeirão Preto é um município brasileiro no interior do estado de São Paulo, Região Sudeste do país. Pertence à Mesorregião e Microrregião de Ribeirão Preto, localizando-se a noroeste da capital do estado, distando desta cerca de 315 km. Wikipédia

Turma com bom nível. Todos funcionários de uma instituição pública. Não foi muito fácil trabalhar com eles. Não pelo fato de terem bom nível, mas porque estavam lá por obrigação, porque não podiam recusar ir, e alguns estavam bem irritados.  Dois participantes, em especial, eram muito chatos.  O curta-metragem, “Quando erámos pássaros” (https://www.youtube.com/watch?v=baiT0kCG1XI), não foi bem a aceito. Trata-se de um conto cigano que narra a história de pássaros que durante uma migração veem uma gaiola dourada. O bando ficou tentado a descer e seu líder não conseguiu impedir. Quando descem são seduzidos pelos que ali estavam, com roupas, joias, farta comida, bebida, fêmeas lindas, sedutoras, e decidem ali ficar. Tempos depois ao verem outros bandos voando e prosseguindo seu caminho, sentem saudades da liberdade perdida e a despeito das ofertas sedutoras, decidem abandonar todos os privilégios e abandonam a gaiola dourada. Entretanto, quando tentam alçar voo caem a cada tentativa e a partir daí só conseguem prosseguir caminhando.

Como o tema do treinamento era sobre o processo de tomar decisões, o curta era utilizado para iniciar uma discussão e reflexão sobre os diversos fatores que influenciam nossos processos decisórios: razão, emoção, valores, ética, preconceitos, paradigmas, etc.

Os participantes não gostaram e fizeram duras críticas. Tiveram dificuldades para interpretar e fazer analogias com o tema do treinamento. A cópia do curta-metragem, fornecida pela empresa contratante, não estava boa (o que dificultou) e o tempo de 16 minutos era maior do que o recomendado para filmes em treinamento.  Tudo isso contribuiu, mas hoje, creio que me faltou mais experiência para conduzir a discussão. A gente vai aprendendo, inclusive a reconhecer que contribuímos para que o objetivo não fosse alcançado.

Decididamente não usarei mais este filme para reflexão. Não foi a primeira vez que os participantes não gostaram e sua utilização como recurso para o aprendizado foi prejudicada.
Anteriormente, era usada uma cena do filme, “A escolha de Sofia”. Prisioneira em um campo de concentração, durante a Segunda Guerra é forçada por um soldado nazista a escolher um de seus dois filhos para ser morto. Se ela se recusasse a escolher, ambos seriam mortos.

O que acontecia? Grande parte dos participantes caiam no choro. E eu só não chorava junto porque não podia. A cena é muito forte. Usei poucas vezes. Existem mil outras cenas de filmes que versam sobre o tema e que não mobilizam uma carga emocional tão alta. Não é preciso chorar para aprender. Nem sempre e preciso aprender pela dor.

De volta ao treinamento.

Quando cheguei ao local do treinamento ainda se encontrava fechado. O responsável por abrir chegou atrasado e ainda por cima não encontrava a chave. A porta teve que ser arrombada. No final esta situação serviu para exemplificar como lidar com problemas, identificar alternativas, tomar decisões. Tudo a ver com o tema do módulo.
Para finalizar este treinamento tinha a seguinte atividade; todos em círculo, acomodados no chão, luz apagada, uma vela acesa, que passaria de mão em mão e eu era a última a receber para o fechamento e assim encerrar o encontro. Ao receber a vela cada um deveria compartilhar, o que faria se soubesse que teria apenas 5 minutos de vida.
Era um momento muito emocionante e algumas pessoas choravam, pois tinham contato com o que estavam deixando de fazer, dizer, para si e para as pessoas que amavam.  
Mas, dependendo do grupo, do tempo (que faltava), às vezes não fazia.

Com este grupo resolvi que não ia fazer o ritual da vela, mas no final, por um insight resolvi fazer. E foi muito bonito, comovente.  Um dos participantes, cantou a Ave Maria e foi muito, muito lindo e emocionante. Uma voz linda, todos em silêncio, vivendo intensamente aquele momento de magia. Foi assim mesmo. 
Puxa vida, as pessoas sempre nos surpreendem. E cada grupo, independentemente das pessoas difíceis, situações complicadas, proporcionam grandes aprendizados, grandes lições de vida. É sempre uma oportunidade para todos e principalmente para nós, condutores, facilitadores de grupo, aprender mais sobre pessoas e sobre nós mesmos.



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