RIBEIRÃO
PRETO/SP – 2002
Renda-se, como eu me
rendi,
Mergulhe no que você não
conhece,
Como eu mergulhei,
Não se preocupe em
entender,
Viver ultrapassa todo
entendimento.
Lispector, Clarice
Ribeirão
Preto é um município brasileiro no interior do estado de São Paulo, Região
Sudeste do país. Pertence à Mesorregião e Microrregião de Ribeirão Preto,
localizando-se a noroeste da capital do estado, distando desta cerca de 315 km. Wikipédia
Turma
com bom nível. Todos funcionários de uma instituição pública. Não foi muito
fácil trabalhar com eles. Não pelo fato de terem bom nível, mas porque estavam
lá por obrigação, porque não podiam recusar ir, e alguns estavam bem irritados. Dois participantes, em especial, eram muito
chatos. O curta-metragem, “Quando erámos
pássaros” (https://www.youtube.com/watch?v=baiT0kCG1XI),
não foi bem a aceito. Trata-se de um conto cigano que narra a história de pássaros
que durante uma migração veem uma gaiola dourada. O bando ficou tentado a
descer e seu líder não conseguiu impedir. Quando descem são seduzidos pelos que
ali estavam, com roupas, joias, farta comida, bebida, fêmeas lindas, sedutoras,
e decidem ali ficar. Tempos depois ao verem outros bandos voando e prosseguindo
seu caminho, sentem saudades da liberdade perdida e a despeito das ofertas sedutoras,
decidem abandonar todos os privilégios e abandonam a gaiola dourada.
Entretanto, quando tentam alçar voo caem a cada tentativa e a partir daí só
conseguem prosseguir caminhando.
Como o
tema do treinamento era sobre o processo de tomar decisões, o curta era
utilizado para iniciar uma discussão e reflexão sobre os diversos fatores que
influenciam nossos processos decisórios: razão, emoção, valores, ética,
preconceitos, paradigmas, etc.
Os
participantes não gostaram e fizeram duras críticas. Tiveram dificuldades para interpretar
e fazer analogias com o tema do treinamento. A cópia do curta-metragem, fornecida
pela empresa contratante, não estava boa (o que dificultou) e o tempo de 16
minutos era maior do que o recomendado para filmes em treinamento. Tudo isso contribuiu, mas hoje, creio que me
faltou mais experiência para conduzir a discussão. A gente vai aprendendo, inclusive
a reconhecer que contribuímos para que o objetivo não fosse alcançado.
Decididamente
não usarei mais este filme para reflexão. Não foi a primeira vez que os participantes
não gostaram e sua utilização como recurso para o aprendizado foi prejudicada.
Anteriormente,
era usada uma cena do filme, “A escolha de Sofia”. Prisioneira em um campo de
concentração, durante a Segunda
Guerra é forçada por um soldado nazista a
escolher um de seus dois filhos para ser morto. Se ela se recusasse a escolher,
ambos seriam mortos.
O que
acontecia? Grande parte dos participantes caiam no choro. E eu só não chorava
junto porque não podia. A cena é muito forte. Usei poucas vezes. Existem mil
outras cenas de filmes que versam sobre o tema e que não mobilizam uma carga emocional
tão alta. Não é preciso chorar para aprender. Nem sempre e preciso aprender
pela dor.
De
volta ao treinamento.
Quando
cheguei ao local do treinamento ainda se encontrava fechado. O responsável por
abrir chegou atrasado e ainda por cima não encontrava a chave. A porta teve que
ser arrombada. No final esta situação serviu para exemplificar como lidar com
problemas, identificar alternativas, tomar decisões. Tudo a ver com o tema do
módulo.
Para
finalizar este treinamento tinha a seguinte atividade; todos em círculo,
acomodados no chão, luz apagada, uma vela acesa, que passaria de mão em mão e
eu era a última a receber para o fechamento e assim encerrar o encontro. Ao
receber a vela cada um deveria compartilhar, o que faria se soubesse que teria
apenas 5 minutos de vida.
Era um
momento muito emocionante e algumas pessoas choravam, pois tinham contato com o
que estavam deixando de fazer, dizer, para si e para as pessoas que amavam.
Mas,
dependendo do grupo, do tempo (que faltava), às vezes não fazia.
Com
este grupo resolvi que não ia fazer o ritual da vela, mas no final, por um
insight resolvi fazer. E foi muito bonito, comovente. Um dos participantes, cantou a Ave Maria e foi
muito, muito lindo e emocionante. Uma voz linda, todos em silêncio, vivendo
intensamente aquele momento de magia. Foi assim mesmo.
Puxa vida, as pessoas sempre
nos surpreendem. E cada grupo, independentemente das pessoas difíceis, situações
complicadas, proporcionam grandes aprendizados, grandes lições de vida. É
sempre uma oportunidade para todos e principalmente para nós, condutores, facilitadores
de grupo, aprender mais sobre pessoas e sobre nós mesmos.
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