GUAREÍ – SP – 2011 http://www.guarei.sp.gov.br/
“Vive a vida o mais intensamente que puderes. Escreve essa intensidade o mais calmamente que puderes. E ela será ainda mais intensa no absoluto imaginário de quem te lê.”
Vergílio Ferreira
Algumas viagens são verdadeiras aventuras, pena que nem sempre agradáveis. Mas, inesquecíveis, seja por acontecimentos pitorescos, divertidos, ou situações inusitadas, que chegam até a nos fazer sentir medo.
O treinamento que ministrei em GuareÍ, era de um programa
de SEIS dias, em duas etapas: três dias cada uma, com intervalo de cinco dias
entre uma e outra.
Começava às 14h e finalizava às 22h. Particularmente, nunca
gostei de trabalhar nesse horário. Por volta das 20h, os participantes já demonstravam
muito cansaço. E, claro, o esforço para mantê-los motivados era bem maior.
Pois bem, viajei para Guareí, na noite anterior. Como
sempre, queria ter um tempo para fazer um reconhecimento da cidade; conhecer um
pouco dela.
Cheguei na cidade por volta das 20h, e me dirigi para o
único hotel da cidade. Imaginei que era bem simples, pois quando liguei para
fazer a reserva, fui informada que o preço da diária era de R$ 10,00. Mesmo
sendo há dez anos atrás, era praticamente de graça. Vai saber. E eu fiquei
sabendo! Preferia não ter tido essa oportunidade.
Quando desci do táxi em frente ao hotel, já deu para
perceber que a estadia prometia não ser boa.
Assim
que vi a “recepção” vi que era simples até demais, por demais.
Um
sofá que não dava para entender como estava sustentado nos quatro pés. Buraco
era o que não faltava. Tive a impressão que se colocasse minha mala em cima,
ele despencava.
O ambiente
estava ani-ma-dis-si-mo!! Alguns caminhoneiros sem camisa, conversavam muito à
vontade, enquanto um colega tocava uma sanfona na sala de TV que era uma
extensão da recepção. Animação total.
A
decoração, além do sofá, que parecia ia desmontar a qualquer momento, era
primorosa, de “extremo bom gosto”: na parede a pintura de uma sereia com seus
longos cabelos e traços mal definidos. A não ser as curvas, bem desenhadas.
Fiz o
meu “registro” – que se limitava a dizer o nome, peguei a chave, fechei a cara
e subi por uma escada suja, sentindo alguns olhares me acompanhando. Pensavam o
que meu bom Deus? De fato não queria mesmo saber.
Ao final da escada, uma mesa com alguns
cobertores disponíveis. Tinha o privilégio de escolher o menos áspero, o menos
velho.
Óbvio,
não escolhi nenhum. Preferia sentir o frio da noite do que a aspereza daqueles
“cobertores”, que no mínimo estavam empoeirados.
O PRIMEIRO QUARTO
Entrei
no quarto, e o que vi não me agradou nem um pouco. Muito pequeno. Tinha
banheiro, menos mal e uma TV bem antiga, mas que funcionava. O pior era a cama:
um lençol pink a cobria, com algumas manchas, sabe-se lá de quê. Não quis ver
mais nada. Resolvi descer, e procurar uma loja aonde pudesse comprar uma roupa
de cama, pois toalha de banho, rosto, eu sempre levava. Fiz isso, mas não
encontrei nenhuma loja aberta por perto, pois já passava um pouco das 21h, e em
cidade pequena o comércio fecha cedo. Voltei para o “hotel” desolada.
Pedi
transferência de quarto, pois o que me deram, tinha que dar um “jeitinho” com a
chave para abrir e fechar. E, com o humor que eu estava, o único jeitinho que
eu queria era sair correndo dali. Mas, não tinha outro local de hospedagem na
cidade.
SEGUNDO QUARTO:
Janelas empoeiradas, com algumas teias de aranha. Lençol no
mesmo estado de “conservação”, banheiro com azulejos que pareciam nunca terem
sido lavados, com sujeira nas junções
dos azulejos . Mas, o armarinho do banheiro parecia novo. Claro, abri, e
SURPRESA: tinha um pênis desenhado
com caneta esferográfica lá dentro, escrito: "achou, c----". O susto
foi tamanho, que bati a porta, como se a "coisa" fosse criar vida e
pular em mim. Fiquei indignada.
Tomar banho nem pensar, deitar naquele lençol, nem por
Deus. A solução: estendi a toalha de banho sobre o lençol, a de rosto sobre o
travesseiro, e me preparei para passar a noite, rezando para que conseguisse
dormir logo.
Liguei a TV, até que o sono chegasse.
De repente escuto um barulho e eis que um papel se adentra
por baixo da porta. Gelei. Com medo, levantei devagarinho e peguei. Era um
convite para conhecer um “cara legal de
Londrina – PR. Estava no salão quando eu cheguei e me achou mjito simpática.
Queria me conhecer, “conversar”. Estava no quarto 16 e eu nem precisava bater
na porta, pois ela estava aberta”. Quanta gentileza... Fiquei apavorada. Para
abrir aquela porta, não precisava de esforço algum. Um empurrãozinho de nada e pronto!
Tive tanto medo, que coloquei o móvel com a TV atrás da
porta, tomei um calmante (senão não conseguia dormir), e desmaiei.
No dia seguinte, acordei muito cedo, muito mesmo. Olhei
pela janela e vi que o dia estava frio e com muita neblina. Lavei o rosto, com
nojo até da água, joguei as tolhas, pijama na mala, e desci as escadas. O
funcionário do hotel, estranhou, pois tinha feito reserva para três noites;
preferi não revelar os meus motivos. Ele disse que o café estava servido na
sala ao lado. Agradeci e recusei, dizendo que não tomava café. Mal sabia ele, a
fome que eu estava, pois minha última refeição tinha ocorrido quando sai de
casa. Sai de lá quase correndo, arrastando a mala. Por sorte, tinha uma padaria
por perto, e foi lá que tomei meu café e coloquei as ideias em ordem. O que
faria? O treinamento só começava às 14h. Tinha sido organizado pela Prefeitura,
que ainda não estava aberta. Fiquei um bom tempo na padaria, e depois segui
para a prefeitura. Fiquei esperando que abrisse, e então consegui falar com a
pessoa que organizou o treinamento. Relatei o acontecido. Pediram mil desculpas,
ficaram constrangidos. Afinal, nunca se hospedaram lá, e não imaginavam que
pudesse ser tão precário, tão inadequado. Deveriam ter tido o cuidado de
verificar acomodações e ambiente.
A questão agora era: aonde ficaria hospedada? Como não tinha
outro hotel, pousada, a única saída era ficar na casa de algum participante do
curso.
De imediato, fui para a casa de uma participante, uma
senhora muito agradável. Tomei meu banho, troquei de roupa, e segui para o
local do treinamento, pois iria arrumar a sala, enfim, preparar para o primeiro
dia de treinamento.
Antes do curso iniciar, ficou decidido que eu iria hospedar
na fazenda de Ivone e Júlio, que ficava próxima da cidade. Que casal lindo.
Fazia alguns poucos anos que se mudaram de SP para Guareí. A fazenda ficava no
alto, e a vista era linda. Eles planejaram a casa, tal qual queriam: grande, aconchegante,
iluminada. Fiquei muito bem acomodada, quarto com suíte. E eles eram muito
agradáveis. Mas, vamos combinar? Ficar
na casa de quem não se conhece, é constrangedor. Quanta generosidade deles
receber uma pessoa que não conheciam. Sou eternamente grata. Lembro deles com
muito carinho.
O treinamento foi ótimo. Uma turma muito bacana. E, aquele “hotel”,
nunca mais!