segunda-feira, 8 de maio de 2023

 2023! E o tempo passa!


A vida me fez de vez em quando pertencer, como se fosse para me dar a medida do que eu perco não pertencendo. E então eu soube: pertencer é viver.

Clarice Lispector


Nossa, minha última postagem foi em 2016! Estou falando de 7anos. Não pensei que ficaria tanto tempo sem postar, sem escrever  aqui. 

Na minha última postagem dizia o porquê iniciei esse blog, sobre o que escreveria: histórias de treinamentos, mas que no fim iria escrever sobre o dia a diam tudo misturado. 

E acabei não escrevendo sobre mais NADA! Quanta coisa aconteceu! Foram poucos os  treinamentos. Estou aposentada. Faço quase NADA! 

Impossível resgatar tudo que aconteceu nesse grande intervalo de tempo. Uma das coisas que mudaram foi minha memória: com o passar dos anos ela vai enfraquecendo. É verdade.

Com o passar dos anos, muita coisa vai enfraquecendo: vontades, desejos, amizades, saúde...são muitas as perdas. Não, não é fácil envelhecer. Quem disse que a terceira idade é a "melhor idade" é por que ainda não chegou nessa fase da vida. 

Mas, envelhecer também significa continuar vivendo e é um presente, uma dádiva, ainda que esse presente não seja lá bem aquele que queríamos, do jeito que queríamos.

Deve ser muito bom envelhecer com saúde, dinheiro, com tranquilidade e aproveitar o que nos resta de vida. Eu, por exemplo, iria viajar muito, muito mesmo.  Nossa, quantos países eu iria conhecer? Todos que pudesse. Iria visitar mais as pessoas que amo, dar mais presentes, comer nos melhores restaurantes, assisitir a shows, teatros, que quisesse.

Mas não é bem assim que a vida está! No momento, cuidando da saúde e com pouco dinheiro. Então, tenho que rever o que posso, o que quero fazer. 

De uma coisa tenho certeza: está  nada bom do jeito que está, sem fazer nada, esperando o dia passar. A vida perde o sentido. Acordar, tomar café, cuidar da casa, preprar o almoço, almoçar, ver Tv, tirar um cochilo, tomar café da tarde, pensar no jantar, às vezes jantar, ver Tv, às vezes ler um livro (preciso fazer mais isso), ver um filme, dormir (acordar algumas vezes durante a noite), acordar e começar tudo de novo.Tudo igual! Muito chato, vazio. 

O pior de tudo é não ter ideia do que fazer para mudar. Ou ter ideia e não ter coragem, não ter ânimo. Que droga! Que chatice! 

Gosto de escrever. É terapêutico. Faz bem. Mas jamais serei uma escritora. Desde sempre tenho inveja de quem sabe escrever. Como essas pessoas são inteligentes, criativas, poderosas. Tenho  inveja até de quem sabe escrever bem o português. Eu não sei. Cometo muitos erros. Língua difícil! Na escola, era uma das marérias que não me saía bem. Mais tarde, bem mais tarde, fiz até um cursinho para melhorar o português, mas não adiantou muito. 

Enfim, eis me aqui. Falando errado, escrevedo errado, fazendo coisas erradas. Continuo esse ser humano imperfeito. Continuo vivendo. Ainda!

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

O QUE FAZEMOS POR UMA AMIZADE?
Minha Vida
Compositor:John Lennon E Paul Mc Cartney

“Desenhos que a vida vai fazendo
Desbotam alguns, uns ficam iguais
Entre corações que tenho tatuados
De você me lembro mais
De você, não esqueço jamais!


Com o passar do anos vai ficando fácil e difícil presentear amigos, pois já se deu um pouco de tudo. No caso de uma amiga, já foi bolsa, perfume, chocolate, peças de vestuários, flores, livros, carteira, enfeites para casa (é...), maquiagem, ingressos para teatro, visita a lugares diferentes, inusitados, e por aí vai. A vontade de surpreender, de demonstrar o amor, o carinho, através de um gesto cuidadoso, carinhoso, requer criatividade. Mas amizade não pede isso também?

Pede tempo. Tempo para ouvir, para encontrar, para pensar, para cuidar. Quem ama cuida. 

Gosto de surpreender, de pensar o que vou fazer, como vou fazer. E quando a pessoa não mora na mesma cidade, estado, país? É preciso planejar cuidadosamente. Gosto que o presente seja entregue no dia certo. Infelizmente, nem sempre o nosso planejamento é bem sucedido já que não depende só de nós. Bem que a pessoa do correio deu toda a certeza que seria entregue na data certa. E eu acredito. Só que.... não é bem assim. Naquela ocasião, o aniversário era em um sábado. O presente foi entregue na portaria do condomínio, mas como era sábado não se fazia entregas. E o porteiro não teve o cuidado de interfonar e avisar. Afinal, sábado não é dia disso, não faz parte de suas atribuições. Ah! As pessoas! Fico irada, frustrada e isso não muda nada. Então, melhor deixar para lá e aguardar a segunda-feira para receber um telefonema de alegria surpreendente. Vale a pena. Não saiu do jeito que queria, mas foi entregue e a pessoa ficou feliz, alegre. Quem sabe já nem esperava mais? Quem sabe a surpresa foi até maior?

Pois bem; depois de mais de 10 anos compartilhando, perto ou longe, a alegria da comemoração de mais um aniversário de uma amiga querida, veio a dúvida de quase sempre: qual o presente esse ano? O que posso fazer diferente?
Pensei, pensei...nossa, pensei muito. Buscava inspiração em tudo que via ao meu redor. Mas acontece quando menos esperamos. Uma chamada na página da UOL: Rita Lee lançaria sua autobiografia na livraria cultura e seria noite de autógrafos. Li avidamente todas as informações sobre o evento: senhas seriam distribuídas para 300 pessoas no dia do lançamento, a partir das 9h da manhã. O evento aconteceria a partir das 17h às 20h, na livraria. Seriam autografados apenas 2 livros por pessoa. SENSACIONAL!!! Vibrei de alegria. Eis o presente que tanto procurava. O livro da Rita Lee, autografado para minha amiga. E por que seria um ótimo presente? Simples: ela adora Rita Lee, suas músicas, seus shows. E tinha a certeza absoluta  que ela jamais imaginaria que receberia tal presente.

Apenas um pequeno detalhe: no dia do (16.11) não estaria em São Paulo. Só iria chegar no dia 17.11. Mas sempre encontramos anjos que nos salvam, ajudam quando mais precisamos. E, no caso, o anjo foi meu filho Matheus.
Prontamente se dispôs a ir pegar a senha e comprar o livro. E assim foi feito. Ele chegou no local por volta das 7h da manhã (a livraria abriria às 9h) e me disse que encontrou uma fila de quase duzentas pessoas. Algumas, inclusive, tinham passado a noite lá. Matheus saiu de lá, por volta das 10h40, com o livro e a senha. Não poderia voltar para pegar o autografo, pois tinha compromisso com a faculdade. Sem problema. Retornei da minha viagem um dia antes ou seja, cheguei no dia do lançamento, descarreguei o carro, troquei de roupa e às 17h10 estava já na fila. Nossa, achei que seria uma das primeiras e mais ou menos aquelas duzentas pessoas acharam também. A fila se estendia pela Alameda Santos. Fiquei surpresa com a quantidade de jovens aguardando ansiosos. Que clima gostoso, leve, alegre. É Rita Lee, a diva, a irreverente, é ELA!

Não é nada fácil ficar horas em uma fila de pé. Mas fica mais fácil quando a motivação é grande, as conversas com as pessoas próximas são proveitosas, o riso rola solto. Quando entrei dentro do conjunto nacional, já eram 18h35, e fique ao pé da escada que dá acesso à livraria, mais ou menos 1h40, totalmente parada no mesmo local. A fila não andava. Artistas, jornalistas de TVs e rádios, chegavam a todo instante e isso interrompia a sessão de autógrafos a todo instante, ocasionando lentidão, atrasos. Faz parte. Por fim, às 21h50 eu estava de frente a Rita Lee e vi emocionada quando escreveu o nome de minha amiga – Marina Augusto, assinou e carimbou. Valeu Rita Lee, cada segundo passado naquela fila, o cansaço, a fome, valeu. Faria de novo. Minha amiga merece. Voltei para casa realizada. Já imaginava seu espanto e alegria ao receber o livro.

E segui planejando para que o presente fosse entregue exatamente no dia do aniversário (uma segunda-feira, 28.11). Fui ao correi e perguntei o procedimento para chegar na data certa. A atendente me garantiu que utilizando o sedex 10, que é um pouco mais caro, poderia chegar um dia antes e no máximo no dia do aniversário. Se fosse o sedex simples chegaria um ou dois dias após. Nesse caso, preferi correr o risco de chegar um dia antes. E chegou?

No dia do aniversário, liguei logo cedo e sabia que ainda não tinha sido entregue. Passei o dia esperando receber um telefonema de alegria e nada!! Mas que droga estava acontecendo? E o dia passou, a noite passou e eu frustrada. No dia seguinte disse para Marina que tinha mandado um presente e pedi que  verificasse na portaria. Tal fato só ocorreu a tarde e as palavras eufóricas que ouvi foram: “ISSO NÃO TEM PREÇO”!
Não tem preço mesmo ouvir e sentir a alegria de uma amiga. Que delícia.

Não poderia deixar de registrar, contar essa história. Amigos são preciosos, são um tesouro. Um tesouro que precisa ser cuidado, polido, no dia a dia, todos os dias. E pequenos gestos são grandes presentes que fortalecem cada vez mais a relação de amor, confiança. Amigos nos curam, nos salvam, e tudo que fazemos por eles se torna pouco quando o que recebemos não tem preço, tamanha a sua grandiosidade, generosidade.

Eu preciso dos meus amigos para viver, se feliz. Queria tê-los, todos, ao meu lado, todos os dias. Mas é querer demais, não é possível. Entretanto, saber que eles existem, que posso contar com eles, independentemente da distância, acalma minha alma, me dá a certeza de que nunca estou sozinha e que todos os meus risos, todas as minhas lágrimas, medos, fracassos e sucessos, através de suas palavras, escutas, abraços, me tornarão mais forte, mais feliz, mais segura. Em algum lugar alguém zela por mim.

O que fazemos por uma amizade? Tudo. Tudo que for preciso, necessário.


terça-feira, 8 de novembro de 2016



O TEMPO DE CADA UM

"Estou de volta pro meu aconhego
Trazendo na mala bastante saudade
Querendo um sorriso sincero, um abraço
Pra aliviar meu cansaço e toda essa minha vontade".
Dominguinhos


Tempo vai, tempo vem. Faz tempo que não escrevo, que não conto histórias... Tenho sentido saudades.

Entretanto, muitas histórias estão acontecendo em minha vida. São muitas as histórias. E, às vezes, é preciso afastar um pouco para buscar sentidos, tentar outros arranjos, outras pessoas, outros sentimentos. E quem sabe, outros lugares.
Tem momentos na vida que tudo fica confuso, bagunçado, meio que perdido. É isso, é assim que tenho me sentido. É um desarranjo.

Tem momento na vida que me sinto grande forte, poderosa, amada, querida.

Outros... ai de mim! Isso mesmo: ai de mim. Eu fico no papel de vítima? Com pena de mim mesma? Me sentindo uma incompetente, meio que fracassada, sem criatividade, sem prumo, sem rumo. Ai!
As dúvidas são tantas, que até mesmo esse espaço de compartilhamento ficou “adormecido”.

Quando pensei em criar um blog, o objetivo era registrar histórias vividas que queria fossem registradas de alguma forma. E assim o fiz. Lamento não ter feito o registro de todos as histórias de treinamentos, assim como lamento não recordar de todas as pessoas, embora todas tenham sido importantes. Foram tantas...

Pois bem e agora?

Quero continuar a escrever, fazer registros, contar histórias do dia a dia, não apenas dos treinamentos que já foram realizados, quero falar do profissional e do pessoal. De coisas diferentes, misturadas. Pode ser uma dica para planejar um bom treinamento, uma reflexão sobre liderança, uma dúvida. Pode ser contar um fato interessante, engraçado, um desejo, um sonho. Pode ser sobre qualquer tema. Pode ser o meu espaço e o de quem mais quiser. Será.

Assim será. Cada dia um dia, um dia de cada vez. O sentimento, o desejo, a saudade, as perdas, os ganhos, alegrias e tristezas. Eu, você, nós e quem vier.
Escrever para mim, é como um aconchego. É o abraço, quando a vontade de falar se cala. É o conforto, o encontrar comigo mesma. E eu preciso estar comigo, ficar sozinha, em silêncio turbulento, pois os pensamentos fervilham. Mas fervilham de certa forma calmos, buscando entendimento, respostas, rendendo às vezes a dor, a ausência de pessoas que amo e que nem sempre podem (ou querem) me ouvir.


É isso. Histórias misturadas. Tudo junto e misturado. É a vida.

terça-feira, 22 de março de 2016

Curso Liderar: ROSANA (Primavera)  - http://www.skyscrapercity.com/showthread.
“O tempo é o que se faz, e mesmo o que faz com que tudo se faça.”
Henri Betgson (1859-1941), filósofo francês

  

 http://www.rosana.sp.gov.br/galeria/albums/userpics/10001/19.jpg




Saímos de madrugada. Eu e o Cory (responsável pelo programa DELIS em Rosana). Estava cansada depois de 3 dias de trabalho em Sandovalina. Chegaria em Rosana quase em cima da hora para iniciar o curso. Seria o tempo de trocar de roupa. A viagem foi tranquila, o papão bom. Cory foi me contando um pouco da cidade, do seu trabalho, das pessoas.
Vamos entender por que Rosana – Primavera:
Rosana é limitada ao norte pelo Rio Paraná, ao sul pelo Rio Paranapanema, a leste pelo córrego de Guaná e Ribeirão Grande e a oeste pela confluência dos rios Paraná e Paranapanema, ponto de grande atração turística do município. A cidade possui duas usinas hidrelétricas, que movimentam a economia local: a usina de Rosana, em funcionamento e a de Primavera, que funciona desde 2006, com Eclusa que possibilita o transporte fluvial e futuramente ligará o município ao MERCOSUL. Desde agosto de 2003, Rosana conta com um Campus experimental da UNESP (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho), onde foi implantando o antigo curso de Turismo com Ênfase em Meio Ambiente, atualmente chamado apenas por Turismo.

Balneário de Rosana]

Há um balneário localizado nas margens do Rio Paraná, inaugurado em março de 1998, o balneário é importante área de lazer e diversão. Oferece lanchonetes e barcos para passeio.

Porto Primavera

 
A Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta, também chamada de Usina Hidrelétrica Porto Primavera, pertencente ao município de Rosana, próxima à divisa com Mato Grosso do Sul e Paraná, possui aproximadamente 10 000 habitantes. O distrito foi planejado e construído pela Cesp (Companhia Energética de São Paulo) para alojar os trabalhadores da construção da Usina Hidrelétrica Engenheiro Sérgio Motta (Porto Primavera) uma das maiores do estado e a maior em extensão do país. Primavera tornou-se distrito de Rosana, conforme Lei Municipal n.º 215/94 de 8 de abril de 1994, e dista da sede aproximadamente 12 km. Nas eleições de 2016, será realizado um plebiscito para a criação do distrito.

O distrito de Primavera foi todo planejado e achei tudo muito lindo, arrumado. Mais tarde ao ter contato com os participantes soube da rivalidade” política muito forte entre distrito e cidade. Muita corrupção, brigas. Que pena!
Os rios eram lindos e tive oportunidade de conhecer as usinas. Foi um passeio fantástico. Delícia foi o pintado na brasa que tive a oportunidade de saborear às margens do rio. Bom, bom demais.
O grupo era bem grande e muito participativo. Muito heterogêneo, com pessoas de assentamentos, sindicato, professores.
Alguns fatos interessantes:
  • um dos participantes, no último dia do urso, me deu de presente um cesto de bambu feito por ele. Era bonito, bem grande e dentro continha mais presentes de outros participantes: panos de prato, imãs de geladeira (que tenho até hoje), aventais, doces.
  • O marido de uma das participantes quis me dar um mamão de 5kg – que disse, era o primeiro que colhia daquele tamanho. Ele não participava do curso, mas sua mulher estava gostando tanto que ele quis me agradecer. Fiquei comovida, mas como levar um mamão de 5kg para outra cidade, de ônibus? Ai, meu Deus, que situação! Muito delicadamente, com todo o cuidado que pude ter, expliquei a situação, disse o quanto me sentia emocionada e agradecida e que infelizmente não podia levá-lo comigo. Acho que entendeu. Espero. As pessoas mexem com meu coração. Pobre dele.
  • Tem muito macaco por lá e eles invadem as casas para pegar comida.
Foi um belo trabalho. Adorei conhecer um pouco de Rosana e Primavera e das pessoas. Aprendi muito com cada uma delas e agora, enquanto escrevo, “vejo” algumas delas. Saudades!



terça-feira, 19 de janeiro de 2016


E já estamos em 2016!!

Fiquei um bom tempo sem escrever. Fim de ano é sempre uma correria: finalização de trabalhos, compra de presentes, planejamento de viagens, confraternizações, "últimos encontros do ano" com aqueles que são mais chegados, enfim... os dias passam rápido. Aliás, depois dos 18 anos, os dias parecem passar mais rápido. Bem mais rápido. E a gente começa a ter mais pressa. Será por isso?
Pensarei nisso outro dia, com menos pressa.


Hoje, especialmente, acordei com saudosismo. De escrever, das minhas histórias, de pessoas. Remexi minhas "gavetas", meus "guardados", minhas lembranças... tão saborosas, tão fortes. Lamento    não ter tirado todas as fotos, todas os cartões, todas as mensagens de carinho. Mas todos os registros estão em meu coração, marcaram minha vida e sempre que preciso de alento, de aconchego, de acreditar que apesar de todos os meu defeitos, erros, sou uma pessoa boa, fiz algo de bom para muitas pessoas que participaram do meu curso. Então resolvi, hoje, fotografar e postar alguns registros de carinho. Foi a forma que encontrei de agradecer a todas as pessoas que continuam me fortalecendo, que continuam a confirmar que VALEU A PENA todos os esforços, obstáculos vencidos, noites mal dormidas, desconforto nas viagens, saudades da família, ausências nos aniversários, nas festinhas da escola, nos fins de semana. VALEU A PENA! Faria tudo de novo. Obrigada pessoas, que nunca mais vi e que nunca esquecerei.




























domingo, 8 de novembro de 2015


SANDOVALINA/ SP 2013 - http://www.sandovalina.sp.gov.br/


“De que são feitos os dias? 
- De pequenos desejos, 
vagarosas saudades, 
silenciosas lembranças. 

Meireles, Cecília






Foi a primeira cidade de uma viagem que duraria 18 dias. Nunca fiquei tantos dias fora de casa. Foi extremamente cansativo. Fui ministrar o programa Liderar, do Sebrae. Eram três turmas, cada uma em uma cidade: Sandovalina, Rosana Primavera e Mirante do Paranapanema. Este programa era desenvolvido em duas etapas de três dias.
E foi assim: ministrava três dias em uma cidade e de madrugada saía para a outra cidade e retornava para finalizar.

A primeira cidade dessa jornada, foi Sandovalina.

Mas, antes não posso deixar de contar sobre a viagem até Sandovalina. Fui de ônibus, com uma mala enorme, pois além de roupas, levava materiais diversos para desenvolvimento das dinâmicas. Uma viagem de 8h. Eu iria descer em Presidente Prudente e pegaria outro ônibus para Sandovalina. O tempo era justo: teria 15 minutos após descer em Presidente Prudente para pegar o último (e único) ônibus para Sandovalina. Em uma das paradas do ônibus, resolvi perguntar ao motorista quanto tempo ainda faltava para chegar em Presidente Prudente e quase tive um infarto quando ele disse, pois chegaríamos uns 30 minutos após o horário de saída do outro ônibus. Falei com ele do meu desespero, pois se perdesse o ônibus, teria que dormir em Presidente Prudente e chegaria atrasada para o curso no dia seguinte. Deus iluminou o bom motorista e eu cheguei faltando 10 minutos para pegar o outro ônibus. Nunca vou me esquecer: sai literalmente correndo, com aquela mala enorme, para o local do ponto do ônibus. Nem o peso da mala eu senti. Vi o ônibus parado, as pessoas entrando e comecei a acenar feito uma louca e ... deu tempo. Era um ônibus circular, não tinha porta-malas, pedi ao primeiro homem que vi lá dentro que pegasse minha mala pela porta de trás e entrei toda esbaforida pela porta da frente. Ufa!!! Consegui!
Acomodei-me em um dos poucos bancos vazios e dei a “sorte” de ter um bêbado bem na cadeira da frente, que foi cantando alegremente o caminho todo. Imagine um bêbado cantando e ainda por cima, a letra da música era uma cantada. Ele cantava e olhava para mim. A viagem que era de uma hora, durou umas quatro horas para mim. Ainda bem que ele desceu antes de mim quando chegamos na cidade.
Sandovalina é uma  cidade pequena (menos de 4.000 habitantes, segundo dados IBGE), tão pequena que tive que me hospedar na casa de uma participante. De novo!! Coisa chata, por mais agradável que fosse a pessoa que gentilmente cedia a hospedagem. Era uma senhora que morava sozinha. Eu jantava em um barzinho próximo e comprava alguma coisa para o café da manhã.

Em Sandovalina não tinha o que fazer. Ficava um pouco na varanda da casa, esperando o calor diminuir um pouco, tomava um banho e entrava para o quarto quente. A janela não podia ficar aberta por causa da quantidade de pernilongos. Tinha um ventilador de pé, velho, que pouco ajudava, e o barulho dele era pior que o calor depois de um certo tempo ligado. Foi nada fácil.
A turma (23 pessoas), maioria de mulheres, era muito afetiva, acolhedora. Tinham participantes de assentamentos. Naquela época ocorriam muitas invasões de terras naquela região. Tive a oportunidade de ir em um dos assentamentos. Fui convidada para jantar na casa de umas participantes. Quantas história, lutas. Claro, era uma morada simples. No pequeno terreno que lhes coube, plantavam mamão. Enquanto a carne cozinhava em uma velha panela de pressão, eu escutava as histórias daquela família. Escutar sobre invasão ocupação, ver notícias na TV, é uma coisa. Outra é ir ao local, conhecer pessoas e escutar o que elas têm para contar. Muda tudo.
Primeiro, os sem-terra invadem, ocupam terras e montam acampamentos. Vi, por mais de uma vez, indo para aquelas bandas, grandes acampamentos ao longo das estradas. Barracas precárias de lona preta, bandeiras (símbolo do movimento) em cada uma delas; famílias inteiras, ali passavam dias, esperando  a desapropriação da terra e sua  transformação em assentamento para cada um receber o pedaço de terra que lhe couber. A ocupação é de certo modo um símbolo da força que tem o movimento sem-terra para chamar a atenção para a necessidade da reforma agrária. Mas, não é minha intenção estender o assunto.

Tive também a oportunidade de conviver com participantes dos dois lados: o “invasor” e o “invadido”. Uma das participantes era filha de um fazendeiro local e estava apreensiva, pois havia rumores de que a fazenda seria invadida. Ela me contou que mesmo que não consigam a desapropriação da terra, os estragos, o prejuízo era muito grande. Os sem-terra derrubavam cercas, matavam gado, cortavam árvores.
Também contaram, que muitas pessoas que participam do movimento ficam acampados, não por que estão lutando por um pedaço de terra para si próprio, mas para alguém, que o pagou e que mais tarde “compra” a terra e vende com lucro. Negócios escusos, existe em todo e qualquer lugar. Pessoas desonestas que desvirtuam objetivos que poderiam ser legais, por falta de organização e administração do estado.
Foram muitos os aprendizados que aquelas pessoas me proporcionaram. Sou grata. Ás vezes, somos muito rápidos para tirar conclusões, julgar, assumir uma ou outra posição, sem sabermos quase nada, ou nada mesmo.

Voltemos ao grupo. Foi um grupo tranquilo para trabalhar, correu tudo bem. Senti que as pessoas tinham medo de se colocar, trocar experiências. Por se ruma cidade muito pequena, todos se conhecem e talvez por isto não se sentiam à vontade para falar de suas experiências. No grupo tinha a Maria, meu Deus, que mulher, que coragem, que determinação. Era uma das “assentadas”. Sua vida é de muita luta, não só por ela, mas para dar condições melhores de vida para a família. Contou que tinha 05 filhos, sendo 03 mulheres e todas são prostitutas. Sente-se culpada, embora tenha procurado ensinar o melhor. Ainda conversava com elas, tentando mostrar que esse não era o melhor caminho. Cuidava de duas netas. Já participou de vários movimentos e invasão de terra, lutas entre sem-terra/fazendeiros/policiais, com muitos tiros. Tinha também uma outra participante, a Sandra. Ela era triste. O marido bebia muito, administrava uma fazenda, e eles se viam aos finais de semana. Já quis se separar, mas desistiu, pois o ama. Tem problemas com a filha que é obesa e ambas sofrem por isto. Quantas histórias de vida, sofrimentos, alegrias... Em uma das noites fui ao aniversário da sobrinha de uma das participantes. Nas minhas andanças fui em várias festas. Convidou, eu vou. É bom. Conhecer mais pessoas, costumes, comidas diferentes e também ajuda o tempo a passar. Gosto muito.

O último dia de treinamento com esta turma, foi de muita emoção. O lanche da tarde foi transferido para o final, como uma confraternização de encerramento. Quando chegamos no local tinha o cartaz (foto abaixo) afixado na parede.



Chamaram um rapaz que tocava violão e cantaram uma música linda sobre amizade:
“Cativar”
Uma palavra bonita jamais esquecida me vem despertar
Contando sete letrinhas e todas juntinhas se lê cativar
Cativar é amor, é também partilhar um pouquinho do saber à quem deseja crescer
No deserto tão só, entre homens também cativou, disse alguém, laços fortes criou

Chorei. Como não chorar?
Ganhei vários outros presentes: toalha de banho bordada, avental, panos de prato, imãs de geladeira, etc. Estar com eles foi o maior presente.

Sai de lá com o coração apertado. Mais uma turma para lembrar com carinho, com saudades. Pessoas que talvez não veria nunca mais. Até o dia de hoje, nunca mais vi, mas não esqueci e jamais esquecerei.

Próximo destino: Rosana (Primavera)


segunda-feira, 19 de outubro de 2015






Cidade pequena, charmosa com praças grandes e arborizadas. Bucólica.
Lembra minha cidade natal: Cordisburgo.  Quanta criança eu vi por lá!
Esta foi a menor turma que tive de treinamento: cinco participantes e duas que foram como “substitutas”, como se pudesse ocorrer isto. Mas pôde, pois não tinha como trabalhar com apenas cinco pessoas. Até a Márcia (representante da empresa contratante) participou. E não é que o treinamento foi legal? Faltou energia, tivemos que acender velas e  ficou bem intimista, um ambiente agradável. Naquele época usávamos o velho retroprojetor e transparências. Nossa, quanta coisa mudou em uma velocidade assustadora. Lembro que chegava em algumas cidades, com pouco recurso e era preciso pedir emprestado o retroprojetor da escola, da prefeitura. E às vezes, ele era tão velho que não podia ficar ligado muito tempo seguido, pois esquentava demais. Que coisa!
Em uma situação dessas, que falta energia e sem o apoio das transparências, se não temos o total domínio do conteúdo a situação se complica e muito. Realmente, nós, facilitadores, coordenadores, seja lá o nome que se dê, temos que estar preparados para lidar com todo tipo de imprevisto.
E a luz de velas concluímos o treinamento. Foi muito diferente, muito mesmo.
Uma das participantes era esposa do Prefeito e olha só: em um certo momento Márcia (representante da empresa contratada) a chamou na minha frente e disse que eu iria dormir na casa dela. Coitada, nem teve chance de dizer não. E eu fiquei muito sem graça. Que chato, mas tinha que dormir em algum lugar e lá não tinha hotel. Dormir em casa de participante não era novidade. Às vezes a cidade é tão pequena que não tem pousada, hotel. E lá fui com o prefeito e a primeira dama. Eles, muito educados, foram bem agradáveis e eu fiz o possível para ser também.

A fazenda deles, bem próxima da cidade, era uma graça. Muito grande e bem cuidada. Uma grande varanda, jardins, pés de frutas...
Estávamos cansados, já era tarde, comemos alguma coisa rápida e cama. Dormi profundamente.

Outras comidas que experimentei nestas andanças pelo Piauí: creme de galinha, suco de açaí, de pupuaçu e sorvete de jaca e mangaba (que delícia!).
Próxima etapa: Teresina, última turma de treinamento desta viagem.

Já cansada, morrendo de vontade de voltar para casa, meu marido, meus filhos. Sinto tristeza. Gosto do que faço, quando estou em sala esqueço de tudo. Mas não é fácil: deixar a família, às vezes viajar horas e horas, dormir em locais nem sempre muito bons, às vezes ruins por demais... enfim...faz parte. No final, quando vemos as avaliações, o que escrevem, faz valer a pena, sentimento de missão cumprida e muito bem cumprida.